segunda-feira, 19 de abril de 2010

cemitério japonês

Essa experiência do Corações Sujos foi tão legal que resolvi fazer algumas imagens do cemitério japonês de Álvares Machado. Esse cemitério foi fechado por Getúlio Vargas justamente na época em que se passa o filme. Em tempos de guerra, o sentimento nacionalista costuma ficar à flor da pele. No Brasil, houveram diversos casos de manifestações contra os imigrantes e descendentes dos países do Eixo.
Para compreender melhor a história, colocarei um resumo. Em 1916, ano da fundação da cidade, várias famílias de imigrantes japoneses já se encontravam instaladas no local. De acordo com Silva,
devido ao surto de febre amarela e a morte de muitos japoneses (em sua maioria crianças), surge, em 1920, a pedido destes imigrantes, um cemitério para o núcleo, pois a distância era de 15 km caminhando a pé para o cemitério mais próximo. Os imigrantes caminhavam com o falecido nas costas, pois não tinham meio de transporte.
O cemitério japonês (ohaka) funcionou até o ano de 1945, quando desativado pela Ditadura do governo populista de Getúlio Vargas. O governo brasileiro, se opondo aos países formados pelo Eixo (Alemanha, Japão e Itália) durante a II Guerra Mundial, proibiu em Lei todos os imigrantes de se comunicarem em japonês, fazendo com que as escolas dos núcleos obrigatoriamente ensinassem aos nipônicos a Língua Portuguesa.
Quando o roteirista David França Mendes veio para a região, levei-o até o cemitério e ele gostou bastante. Até incluiu uma cena no local em seu primeiro tratamento do roteiro. Não sei se eles ainda pensam em filmar por lá, mas o lugar é muito bonito e vale a pena. Além do cemitério, há a antiga escola que funcionava na época e um estábulo.
Reuni uma amiga e seus primos para as filmagens. Dêem uma olhada:


Cemitério Japonês from André Yuzo Aoki on Vimeo.

Referência Bibliográfica

SILVA, Fernanda Correia. AÇÕES DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL NO MUNICÍPIO DE ÁLVARES MACHADO/SP - BRASIL. Acessado em 19/04/2010. Disponível em:
http://74.125.113.132/search?q=cache:V2QgE9oktv8J:egal2009.easyplanners.info/area08/8045_Correia_Silva_Fernanda.doc+%22cemit%C3%A9rio+japon%C3%AAs%22+machado&cd=11&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&client=firefox-a

quinta-feira, 15 de abril de 2010

começo


Desde de que me conheço por gente sou apaixonado por filmes. Lembro que, aos sete anos, a sessão da tarde já não me bastava, então passava horas na locadora, onde alugava filmes à fiado escondido do pessoal de casa. Imagina a surpresa no final do mês.
Sempre considerei minha paixão por filmes como algo platônico. Essa coisa de cinema era, sei lá, anos luz da minha realidade. Não queria misturar as coisas, as madrugadas insones já me faziam sonhar acordado o bastante.
Até que, já na faculdade, por acaso comecei a ler um jornal voltado para a comunidade japonesa. Havia uma entrevista com um diretor que até então nunca tinha ouvido falar, Vicente Amorim, dizendo que iria filmar o livro Corações Sujos, de Fernando Morais. Lembrei do livro por ser do escritor de "Chatô".
Pesquisei sobre o tema e descobri que boa parte da história se passa na região onde eu moro, no oeste do estado de São Paulo. Nessa hora, pensei: "essa pode ser uma oportunidade". Procurei algum contato do diretor pela internet, sem sucesso, mas encontrei o roteirista do filme, David França Mendes.
Para minha mórbida felicidade, o David, em seu blog, dizia que estava passando por dificuldades para escrever o roteiro, já que ele, um carioca da gema, não fazia idéia de como deveria retratar, de forma verossímil, a vida de imigrantes japoneses do interior do estado de São Paulo na metade da década de 40.
Me ofereci para ajudá-lo, caso quisesse realizar algumas pesquisas pelas cidades do livro, e ele aceitou. Antes da gente se encontrar, fiz algumas pesquisas e entrevistas por Tupã, Bastos, Álvares Machado e Osvaldo Cruz. Ele gostou do relatório e veio para Prudente, depois de passar por São Paulo e Londrina.
Durante o tempo que a gente viajou pelas cidades, eu não parava de fazer perguntas relacionadas ao cinema, pois até então nunca tinha conhecido alguém do ramo. Queria saber de tudo: qual a função do produtor, o que exatamente o produtor executivo faz, quais as etapas de um filme, como era o processo criativo e de pesquisa, quem faz o quê, quem manda em quem e tantas outras.
Ele, pacientemente, respondia todas as perguntas e, melhor, citava exemplos de seus trabalhos. Já havia assistido 'O Caminho das Nuvens', escrito por ele, dirigido pelo Vicente e produzido pelos Barreto, com Wagner Moura e Cláudia Abreu nos papéis principais. Prestei tanta atenção no que ele dizia que até hoje lembro das explicações.
Depois disso não parei mais, mas serão histórias que contarei depois. Parece que o filme já está sendo rodado e acredito que ficará muito bom. O Vicente Amorim se tornou um diretor conhecido internacionalmente, dirigiu o Viggo "Aragorn" Mortensen no filme 'Um Homem Bom', sobre o início da expansão do regime nazista na Europa, mesmo período em que se passa o "Corações Sujos". O David agora é diretor de longa-metragens, também. Seu filme 'Um Romance de Geração' teve críticas positivas e estou esperando chegar nas locadoras, já que não passou nos cinemas de minha cidade.
Por enquanto, é isso.